quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sessão 5/ Cinema Contemporâneo - Estrada para Ythaca

Quatro amigos em luto, interpretados pelos próprios diretores, aprtem em uma viagem em direção à cidade natal do amigo falecido. Mais do que um lugar, Ythaca é um caminho que envolve amizade, descoberta, silêncio e cinema.

Melhor filme na Mostra de Tiradentes em 2010, em si é ao mesmo tempo um ponto de partida e um processo já em curso. Estrada para Ythaca prega o humor e a liberdade (a ponto de manter na edição cena em que um dos diretores tropeça na câmera – é o Cinema do Terceiro Mundo, afinal), assim como flerta com o fantástico e o maravilhoso, à maneira de Buñuel e de Jean Vigo (apenas uma nave espacial, evento fora do comum, é capaz de levá-los às portas de Ythaca). O filme, no entanto, também interage com outra tradição cinematográfica, bem distinta: a dos amigos (homens) que se reúnem e constatam a falência do mundo.


Quatro amigos diretores, quatro personagens, um mito como pano de fundo e um luto por fazer no presente. Estrada Para Ythaca é dirigido e interpretado por Luiz Pretti, Ricardo Pretti, Guto Parente e Pedro Diógenes. Luiz e Ricardo são irmãos gêmeos; Guto e Pedro, primos. Um filme de família, uma história criada à medida que se fazia, com imagens captadas por uma pequena câmera digital. Cinema, mas também celebração de amizade.

Esse, aliás, é o estímulo propulsor da história. Os personagens são amigos que se reúnem em um bar. Bebem e falam. Resolvem pegar um carro e partir para Ythaca. Para fazer o quê? Talvez buscar uma imagem, algo perdido, um amigo que se foi de maneira prematura.

Esse filme de estrada – literalmente e no título – se faz à medida que as imagens progridem, assim como um romance se escreve palavra após palavra. Há um sentido poético que os guia e estrutura a obra. Por exemplo, não é casual a citação de Vento do Leste, filme de Jean-Luc Godard da sua fase no Grupo Dziga Vertov e no qual aparece Glauber Rocha como ator. Há uma encruzilhada e dois caminhos possíveis. Um, pela direita, que leva ao cinema da aventura; o outro, pela esquerda, que conduz ao cinema do terceiro mundo, “perigoso, divino e maravilhoso”, segundo a música de Caetano Veloso cantada por Gal Costa. Dizem que Godard achou ruim com Glauber por ele ter escolhido esse caminho. Mas, metaforicamente, foi a via adotada por seu cinema, naquela época em que direita e esquerda faziam todo o sentido, um tempo enfeitiçado pela palavra revolução.

Essa citação de cena não aparece por acaso. Ela é um manifesto colocado como sinalização no meio dessa estrada que leva a Ythaca. Fala de uma tomada de posição. Estética em primeiro lugar, de uma geração que encontra suas referências no segundo Glauber, o do exílio, e em seu desafeto e continuador dialético, o “maldito” Rogério Sganzerla.

A essas referências cinematográficas, soma-se aquela ao escritor grego Konstantinos Kavafis e sua Ythaca mítica. A Odisseia é o arquétipo da viagem. Quando Ulisses volta à Ítaca natal não a encontra da mesma forma. A cidade mudou, Penélope não é a mesma e ele mesmo, Ulisses, é diferente do da partida. Tudo flui e altera-se, conforme havia dito aquele outro grego, Heráclito, que não podia se banhar duas vezes no mesmo rio. Porque o rio não era o mesmo, nem ele, Heráclito, continuava sendo o mesmo de outrora. Tudo é devir.
Portanto, de certa forma, esse filme inspirado é também uma viagem sem volta. De jovens que descobrem o luto e, portanto, fazem uma passagem forçada e prematura para o outro lado, o da consciência da finitude humana e da morte. Mas é também a iniciação nesse outro ritual, o cinematográfico, com uma obra de estreia forte, barata e cheia de poesia. Ritos de passagem. Que o caminho seja longo e continue inspirador.
Extras

O Cachorrinho da Emive, o Salvador da Noite no Palácio

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Exposição - 1911-2011 Arte Brasileira e Depois

A mostra 1911-2011 Arte Brasileira e depois, na Coleção Itaú é uma retrospectiva da arte produzida no Brasil entre 1911 e 2011 -- do pré-modernismo até a atualidade, composta por 178 obras, entre pinturas, esculturas e instalações, de 139 artistas, pertencentes à Coleção Itaú -- organizada pelo Itaú Cultural.

Partindo do óleo sobre cartão A pequena aldeã (1911), de Lasar Segall, até o lápis de cor sobre papel Magenta grace (2011), de Rodolpho Parigi, a curadoria foi além do retrato histórico da produção contemporânea brasileira, ilustrando um percurso livre por temas, estilos e modos de pensar o mundo e a arte.

A mostra está dividida em seis grandes grupos orientados cronologicamente e relacionados aos temas abordados nas obras: A Marca Humana; Irrealismos; Modos de Abstração; A Contestação Pop; Na Linha da Ideia; e Outros Modos, Outras Mídias.

Composta por 3.600 peças, a Coleção Itaú é um dois mais representativos conjuntos dos mais representativos conjuntos de obras de arte brasileiras.
Extras
"A Obra negra" by Luiii



"O Coringa de Óculos" by Luiii